Adoçantes vs. Açúcar: O que as pesquisas mais recentes revelam sobre os substitutos
- Ana Costa Nutri

 - 9 de set.
 - 3 min de leitura
 
Como nutricionista especializada em cirurgia bariátrica e alguém que viveu na pele esse processo, sei o quanto é difícil lidar com as mudanças alimentares necessárias. Uma das maiores dúvidas que minhas pacientes trazem no consultório é: "Posso usar adoçantes? Eles realmente são seguros?"
Infelizmente, as pesquisas mais recentes nos trouxeram descobertas que mudam completamente nossa compreensão sobre esses produtos que, por tanto tempo, foram vistos como "salvadores" da dieta.
O que descobrimos sobre o declínio cognitivo
Um estudo brasileiro de 2025 que acompanhou mais de 12 mil pessoas por oito anos trouxe uma descoberta alarmante: quem consome mais adoçantes artificiais apresenta declínio cognitivo 62% mais acelerado. Isso equivale a um envelhecimento cerebral de aproximadamente 1,6 anos extra, afetando principalmente a memória e a fluência verbal.
Os adoçantes estudados incluíram aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, sorbitol e xilitol. O único que não mostrou esse efeito prejudicial foi a tagatose - um dado importante que vou explicar melhor adiante.
Riscos cardiovasculares que não podemos ignorar
Eritritol: o "natural" que preocupa
O eritritol, muito utilizado em produtos "zero açúcar", tem sido alvo de estudos preocupantes. Pesquisas da Cleveland Clinic mostraram que pessoas com níveis altos de eritritol no sangue têm duas vezes mais chances de sofrer infarto ou AVC.
O que mais me chamou atenção foi descobrir que uma simples bebida com eritritol aumenta os níveis sanguíneos em mais de mil vezes, permanecendo elevados por mais de 4 horas. Durante esse período, as plaquetas ficam mais "grudentas", facilitando a formação de coágulos.

Xilitol: o "amigo" dos dentes que pode não ser do coração
O xilitol, famoso por prevenir cáries, também foi associado a dobrar o risco de eventos cardiovasculares graves. Em estudos com voluntários saudáveis, uma dose típica (equivalente ao que encontramos em produtos comerciais) aumentou significativamente a atividade das plaquetas em apenas 30 minutos.
O que acontece no nosso intestino
Como profissional que trabalha com cirurgia bariátrica, sei que a saúde intestinal é fundamental para o sucesso do tratamento. Várias pesquisas mostram que adoçantes artificiais podem alterar nossa microbiota intestinal.
Estudos indicam que sucralose, sacarina e aspartame podem modificar as bactérias benéficas do nosso intestino, afetando nossa capacidade de processar glicose adequadamente. Isso é especialmente preocupante para quem já tem resistência à insulina ou diabetes.
A confusão dos sinais de fome
Uma descoberta que explica muito do que vejo no consultório: pesquisas mostram que a sucralose pode "confundir" nosso cérebro, ativando regiões relacionadas à motivação alimentar e aumentando a fome. Isso pode explicar por que alguns pacientes relatam mais dificuldade para controlar a vontade de comer após consumir produtos diet/light.
O que a OMS nos diz
Em 2023, a Organização Mundial da Saúde foi clara: não recomenda o uso de adoçantes não nutritivos para controle de peso. A organização alertou que o uso prolongado pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mortalidade.
A tagatose: uma esperança?
Entre todas as notícias preocupantes, há uma exceção interessante: a tagatose. Este adoçante natural, extraído do soro do leite, foi o único que não mostrou associação com declínio cognitivo. Além disso, ela tem características únicas:
Benefícios prebióticos: alimenta as bactérias benéficas do intestino
Baixo impacto glicêmico: não altera significativamente os níveis de açúcar no sangue
Funcionalidade similar ao açúcar: pode ser usada em receitas sem grandes adaptações
Minha recomendação como nutricionista bariátrica
Com base nas evidências atuais e minha experiência clínica, oriento minhas pacientes:
Para quem está se preparando para a cirurgia:
Comece já a reduzir gradualmente a dependência do sabor doce
Se precisar usar adoçantes, prefira pequenas quantidades e opções naturais como stevia
Evite produtos ultraprocessados ricos em adoçantes artificiais
Para quem já fez a cirurgia:
Priorize alimentos naturalmente doces como frutas
Use adoçantes apenas pontualmente, nunca como base da alimentação
Se optar por algum adoçante, considere a tagatose ou pequenas quantidades de stevia
Evite eritritol e xilitol, especialmente se há histórico cardiovascular na família.
Para todas:
Lembrem-se: nossa jornada é sobre reeducação alimentar, não sobre encontrar substitutos "mágicos"
O paladar se adapta - com o tempo, precisamos cada vez menos do sabor doce intenso
A lição mais importante
Como alguém que passou pela cirurgia bariátrica, sei que mudanças alimentares são difíceis. Mas essas pesquisas nos lembram que não existem atalhos sem consequências. Nossa meta não deveria ser apenas trocar açúcar por adoçantes, mas reduzir nossa dependência do sabor doce.
É um processo, e não acontece da noite para o dia. Mas quando conseguimos, ganhamos muito mais que controle do peso - ganhamos saúde cerebral, cardiovascular e intestinal.
Lembrem-se: vocês não estão sozinhas nessa jornada.
Cada pequeno passo em direção a uma alimentação mais natural e consciente é uma vitória que merece ser celebrada!



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